O hipotireoidismo é a doença tireoidiana mais comum, com prevalência de 2 a 3% na população geral, 15% em pessoas com mais de 60 anos e 0,3 a 0,5%, dentre as gestantes. A principal forma de apresentação do hipotireoidismo (95% dos casos) é decorrente de alterações primárias na glândula tireoide (hipotireoidismo primário), podendo também ocorrer secundário a medicamentos e a disfunções hipofisárias ou hipotalâmicas.
O hipotireoidismo na gravidez é definido como a elevação na concentração sérica do TSH e diminuição do T4L durante a gestação, com ambas as concentrações fora dos intervalos específicos de referência para o trimestre gestacional. Quando a ingestão de iodo é adequada, a causa mais frequente de hipotireoidismo é doença autoimune da tireoide (tireoidite de Hashimoto).
O autor chama atenção para as variações substanciais no limite superior de referência do TSH entre as populações e sugere que isso se deva a diferença na ingestão de iodo, às técnicas laboratoriais utilizadas para o diagnóstico, ao índice de massa corporal da paciente, à etnia e a idade gestacional. Além disso, reforça uma influência aditiva importante da positividade do anticorpo anti TPO no status tireoidiano materno. Mesmo a função da tiroide sendo idêntica, parece haver mais complicações naquelas em que esse anticorpo é positivo e, por esse motivo, as decisões sobre o tratamento com levotiroxina devem se basear não apenas na avaliação da função tireoidiana, mas também do anti TPO.
O hipotireoidismo materno tem sido associado ao aumento de risco de parto prematuro, baixo peso ao nascimento, abortos e atraso no desenvolvimento neuro-cognitivo, riscos que diminuem com a normalização dos níveis séricos de TSH, pelo uso da levotiroxina. No caso do hipotireoidismo subclínico, parece não haver um aumento de complicações gestacionais e o uso da levotiroxina pela gestante, não melhora o desenvolvimento cognitivo das crianças.
O autor recomenda que o objetivo do tratamento com a levotiroxina é atingir uma concentração de TSH de pelo menos a metade do valor inferior de referência para o trimestre gestacional e deve-se reavaliar o TSH a cada 4 a 6 semanas, durante a gestação.
Por fim, o autor sugere que não há benefício para triagem universal do hipotireoidismo na gravidez, o que está de acordo com as recomendações do Colégio Americano de Obstetrícia e Ginecologia e reforça a importância de triar pacientes de alto risco para desenvolvimento de hipotireoidismo, por histórico ou sinais e sintomas.
*Comentário redigido com a participação de Bárbara Luiza Alves Pinto, R3 do Programa de Residência em Ginecologia e Obstetrícia do HC/UFMG.