No artigo, Gabriel N. Hortobagyi relata sua própria trajetória ao longo dos anos no combate ao câncer e ao mesmo tempo traça uma linha do tempo do que se evoluiu em tratamento com ganho de sobrevida e de qualidade de vida nas últimas cinco décadas. Houve incremento no entendimento da biologia tumoral, no diagnóstico, que anteriormente era possível apenas através de exame físico e por meio de biopsias abertas, e no tratamento cirúrgico, que tem sido direcionado para o mínimo eficaz, com cirurgias conservadoras da mama e ressecção de linfonodo sentinela axilar. As pacientes de outrora, como não sabiam seu diagnóstico previamente à cirurgia, acordavam da anestesia perguntando se haviam perdido ou não a sua mama.
Os tratamentos adjuvantes também se desenvolveram. A radioterapia evoluiu consideravelmente a partir das máquinas de cobalto, bem como a hormonioterapia que só era possível através da castração. No arsenal de quimioterapia disponível atualmente, há drogas não só em maior número, mas também variações na intensidade de doses e na sequência do tratamento, com a possibilidade de tratamento sistêmico neoadjuvante, além de drogas direcionadas a alvos moleculares e outras de melhor efeito terapêutico em pacientes portadoras de mutação de risco para câncer de mama, BRCA. Atualmente, conseguimos correlacionar a expressão de grupos específicos de genes e podemos classificar o câncer de mama em vários subgrupos definidos, em vários perfis genômicos, com definição em grupos prognósticos, possibilitando a seleção de terapias ideais, incluindo a imunoterapia.
Toda essa evolução foi acompanhada da possibilidade se realizar um cuidado multidisciplinar e suportivo dos pacientes, na atualidade, com possibilidade de redução, inclusive, de sintomas provocados pelos tratamentos.
O tratamento do câncer de mama progrediu não só para o objetivo da cura, mas também no aumento de sobrevida de pacientes metastáticos. Cerca de 25 a 50% de pacientes oligometastáticos, em estágio IV, mas sem evidência de doença, podem permanecer sem novas recorrências ou metástases por períodos extensos de mais de 20 anos.
O autor manifesta o privilégio de trabalhar com pesquisa em câncer de mama no período em que, indiscutivelmente, houve maior avanço em séculos. Ele destaca a possibilidade de ter podido trabalhar com centenas de investigadores e milhares de pacientes ao longo dos anos e traduz a essência do seu trabalho em câncer de mama com uma frase de uma oncologista chamada Arti Hurria “Se você quer ir rápido, vá sozinho. Se você quer ir longe, vá junto”.